Você já se pegou dizendo “depois eu faço” e, quando percebe, o dia acabou sem que nada andasse?
Essa é a armadilha da procrastinação, um comportamento comum, mas que pode comprometer a produtividade, o equilíbrio emocional e a autoestima — especialmente no ambiente de trabalho.
Por que procrastinamos?
A procrastinação não é apenas “falta de força de vontade”. Ela tem raízes neurobiológicas e emocionais.
Nosso cérebro é programado para buscar recompensas imediatas e evitar desconfortos. Quando precisamos executar tarefas que exigem esforço mental ou que parecem entediantes, outras atividades mais prazerosas acabam ganhando prioridade — mesmo que não sejam importantes.
Por trás disso está a dopamina, um neurotransmissor essencial para manter o foco e a motivação. Quando há pouca atividade dopaminérgica — especialmente no córtex pré-frontal, região ligada à atenção e ao planejamento — fica mais difícil sustentar o engajamento em uma tarefa.
Por isso, mesmo pessoas muito competentes podem ter dificuldade em começar ou concluir atividades simples.
O lado emocional da procrastinação
A procrastinação também pode ser uma forma de lidar com emoções desconfortáveis — como medo de fracassar, de decepcionar alguém, ou de não ser perfeito o suficiente.
Muitas vezes, adiamos algo porque acreditamos que “ainda não é o momento ideal”.
Esse tipo de pensamento, típico do perfeccionismo, cria um ciclo de adiamento que alimenta a culpa e mina a autoconfiança.

Como quebrar esse ciclo na prática
Superar a procrastinação não depende de grandes viradas, mas de pequenos ajustes consistentes.
Aqui estão estratégias baseadas em evidências científicas que podem ajudar:
- Dê o primeiro micro passo.
Começar é sempre mais difícil do que continuar. Divida a tarefa em partes pequenas e execute a primeira delas, mesmo que pareça insignificante. O ato de iniciar já reduz a resistência mental. - Gerencie emoções, não apenas o tempo.
Pergunte a si mesmo: “O que estou sentindo ao evitar essa tarefa?”
Identificar e nomear a emoção — seja tédio, ansiedade ou medo — ajuda o cérebro a processá-la com menos intensidade. - Crie um ambiente favorável à concentração.
Reduza estímulos que competem pela sua atenção: deixe o celular longe, silencie notificações e organize o espaço de trabalho.
Pequenas mudanças no ambiente aumentam significativamente o tempo de foco. - Planeje com antecedência os imprevistos.
Use a técnica “se–então”: “Se eu me distrair, então volto a focar no que estava fazendo.”
Essa antecipação reduz a chance de autossabotagem. - Reinterprete o perfeccionismo.
Em vez de buscar condições ideais, comece com o que tem. A perfeição é inimiga do progresso. - Pratique autocompaixão.
Evite se culpar quando perceber que adiou algo. Sentimentos de culpa só reforçam o ciclo de procrastinação. Trate-se como trataria um amigo que está tentando melhorar.
Quando buscar ajuda profissional
Se a procrastinação está afetando seu trabalho, estudos ou vida pessoal de forma recorrente, isso pode indicar um padrão disfuncional mais profundo, como ansiedade, TDAH ou perfeccionismo excessivo.
Um acompanhamento psicológico pode ajudar a identificar as causas e desenvolver estratégias personalizadas para melhorar sua performance e seu bem-estar.
Referências
- Harvard Business Review – Why You Procrastinate (It Has Nothing to Do With Self-Control)
- Caroline Webb, How to Have a Good Day
- Tim Pychyl & Fuschia Sirois, Procrastination, Emotion Regulation, and Well-being
- John Perry, The Art of Procrastination
- Estudos neurocientíficos sobre dopamina e motivação – Nature Neuroscience, 2022
